A tragédia na boate de Santa Maria que levou ao óbito de
forma absurda a vida de 231 jovens; reacendeu na minha mente um diálogo que
tenho tido com alguns pastores: a situação dos templos evangélicos.
Movidos pelo desafio de crescimento do número de membros, muitos
pastores fazem construções sem planejamento técnico ou se instalam em salões,
galpões e lojas adaptadas sem o a menor preocupação com a segurança dos fieis
que ali se reúnem. Esses locais possuem portas estreitas, espaços apertados
entre os bancos, ausência saída laterais, falta de extintores, decorações
inflamáveis; escadas mal construídas muito íngremes, dificultando o acesso de
pessoas hipertensas e os da terceira idade, e, estreitas, totalmente fora do padrão exigido
do Corpo de Bombeiros; verifica-se também a ausência de rampas e quando elas
existem, não são suáveis.
Nos templos antigos, construídos numa época onde essas
preocupações não eram levadas em consideração, percebemos a necessidade de
readequação as exigências atuais. Quero incluir nesta categoria, alguns templos
tombados pelo patrimônio público, que muito orgulham a história de algumas
denominações.
Mesmo nas igrejas de governos congregacionais, o pastor deve levar
o povo ao entendimento, para agir dentro do rigor da letra da lei que não
isenta o líder das suas responsabilidades em caso de acidentes dessa natureza. Pastor
é responsável pelo bem-estar daqueles que frequentam aos cultos no templo onde ele
ministra a Palavra e não deve ser omisso. A obediência as leis não deve ser
tratada como assunto de governo administrativo eclesiástico, mas cumprido.
A maioria das pessoas são reativas; esperam a tragédia acontecer,
para depois atender as exigências que deveriam ter sido providenciadas antes
dos eventos tragicos; a experiência da boate Kiss na cidade de Santa Maria pode
ser o momento oportuno de se refletir a nossa prática e passarmos a ser proativos.
Podemos começar, tomando a decisão de adequação das igrejas às normas de
segurança estabelecida pela legislação; para isso, consulte profissionais do
ramo de engenharia e de arquitetura; siga orientações do Corpo de Bombeiros. A
prudência indica essa direção, espera-se uma mudança de atitude nesta área, que
contribuirá para evitar o acontecimento de tragédias semelhantes nas igrejas.
Hoje, os donos da boate são acusados pelo que deixaram de
fazer; mas amanhã o acusado poderá ser o pastor de igrejas que não atendem o
padrão de segurança exigido. Será que teremos que esperar outra tragédia como essa
em nossos templos para aprendermos a lição de como não fazer? Basta de mortes
pela irresponsabilidade, omissão ou postergação de atos que deveriam ter sido
tomados, por alguém que tem uma responsabilidade a cumprir e deixa a desejar.
Que acidentes semelhantes a esse nunca mais aconteça e que os culpados sejam
julgados e condenados segundo a lei; mesmo sendo pastores.
As famílias das vítimas de Santa Maria estão sofrendo, esse
acidente abalou todo o Brasil e fez muita gente se solidarizar com a dor dessa
grande perda. Creio que somente Deus pode consolar o coração das famílias e dos
amigos em luto, pois qualquer palavra que eu diga não resolverá; somente mostrará
a minha solidariedade com a dor deles e a minha indignação com os que deixaram
de observar as normas de segurança.
Isaias Lima de Menezes
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