terça-feira, 3 de julho de 2012

Os cristãos somos homoclastas: uma revisão exegética da palavra "sodomia"


por Luiz Roberto Santos * segunda, 2 de Julho de 2012 às 12:54 ·

O cristianismo como formador da cultura de gêneros criou uma distorção na formação da sexualidade humana. Pior que a homofobia (aversão e preconceito ao homossexual), é o espírito homoclasta na civilização cristã ocidental ao longo dos séculos. Homoclastia é a ojeriza ou a atitude de destruir e perseguir todos que manifestam uma relação homofílica (atração para com o mesmo sexo).

 É humilhante ver o pavor de um jovem cristão em suas crises quanto à sua sexualidade. Ver sua auto-rejeição, quando descobre alguma diferença no seu comportamento quer como homem ou como mulher. O medo e o desespero em revelar seus fantasmas o levam a uma vida de terrorismos psicológico, mental e espiritual. Não basta dizer para este ser humano não gostar do mesmo sexo. Não basta amarrá-lo e exorcizar os demônios da homossexualidade. Pois, quanto a sexualidade não há um ser humano em sua total e plena maturidade saudável. Quem é idôneo para tratar desse assunto?
 Diante de interpretação equivocadas sobre a sexualidade cristã, destaco uma palavra  para uma reflexão exegética - “sodomia”. Dicionários definem sodomia como “conjunção sexual entre homossexuais masculinos”. É uma palavra oriunda do Velho Testamento aos habitantes de Sodoma, cidade destruída por Deus.

Porém, a palavra “sodomia” na cultura bíblica, de construção judaica, está mais próxima de “prostituição”, do que “homossexualidade”. A palavra se forma a partir da narrativa de Genesis capítulo 19. Habitantes de Sodoma cercam a casa de Ló para divertirem-se com os dois visitantes (anjos) que estavam acolhidos pelo sobrinho de Abraão. Ló mantinha uma conduta familiar conforme recebeu de Abraão seu tio. Uma educação semita sobre família e sobre sexo, mas habitava numa cultura cananita, marcada pela devassidão moral.

A narrativa bíblica revela a cultura da sexualidade em Sodoma. Tantos grandes quanto pequenos se divertiam através do sexo grupal e da violência sexual. O estupro, o incesto, as orgias, a violência tanto a homens quanto a mulheres eram praticados pelo povo como lei moral. O sexo era para a distração humana. Era para o prazer coletivo. Não havia idéia de fidelidade conjugal e nem tão pouco temor quanto à vida humana. A perversão chegou ao ponto de brincarem sem pudor com o sexo. Eram heterossexuais, porém, tinham prazer em praticar o sexo para humilhar e violentar pessoas. Era a lei da selva, um instinto animalesco. Moralidade esta inculcada nos filhos desde a infância. Crianças eram violentadas. Meninos eram currados, mulheres estupradas. Pais praticavam sexo com seus filhos. Isto era Sodoma!

Assim, uma criança que nasce numa cultura cristã hipócrita e fraudulenta está fadada a doenças psíquicas de sua sexualidade. Uma visão cristã onde o heterossexual violenta, estupra, mata,  diverte-se, machuca, mas pertence ao reino dos céus. Porém o adolescente que precisa de ajuda e amparo, que desenvolveu síndromes que ele mesmo rejeita, é comparado com os sodomitas e condenado ao fogo do inferno.
   
Como acolher jovens que se sentem atraídos pelo mesmo sexo? Como lidar com gente que desenvolve uma aversão pelo sexo oposto? Estes são sodomitas? Não! Biblicamente, não! Sodomita representa o homem ou a mulher que em perfeito juízo escolhe fazer do sexo seu espaço de diversão hedonista, perversão e prazeres egoístas. Sexo sem lei. E onde não há limites desenvolve-se um espaço irracional. É a lei do presídio! É a lei da morte! Este é o conceito bíblico de sodomia. É esta a sexualidade permissiva que o cristianismo ocidental desenvolveu. É esta cultura sodômica que está no subconsciente de um pseudo cristianismo contemporâneo.

É mais fácil perseguir e amaldiçoar um ser humano que personificamos como “mau”, do que destruir um “mal” enraizado em nossas mentes. Assim, buscamos destruir toda personificação que incomoda nossas perversões internas. Não somos apenas homofóbicos, somos homoclastas!

            (um texto para reflexão e discussão, pastorluizroberto@terra.com.br)
* Professor do STBSB
*Publicado com autorização do autor.

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